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Foto do escritorRaquel Oliveira

Uma história sobre um Gaphic Novel



A garota pegou seu IPad, deitou na rede verde ao lado do gramado e, com o leve balançar da rede e os sons dos passarinhos, ela abriu o aplicativo do Kindle.

“Heartstopper” era o nome do livro, que na verdade era um graphic novel. A garota estava animada para ler, pois havia comprado a versão em inglês e esse seria o seu primeiro livro oficial em inglês que ela leria. Ela não tinha expectativas quanto a história: ela só queria ler aquele livro porque ele ganharia uma adaptação na Netflix em menos de um mês.

Então, ela começou a ler, observando os desenhos, entendendo as palavras em inglês ali e tendo uma tarde leve, tranquila e calma. E, quanto mais a garota lia, mais ela começava a gostar da história.

Ela adorou o protagonista, com o seu jeito frágil e ao mesmo tempo forte de ser, com seu corpo magricela e o cabelo que provavelmente estaria bagunçado na vida real. E ela também começou a gostar da relação do protagonista com o seu interesse amoroso: Nick.

Charlie (o protagonista) aos poucos se aproxima de Nick e quanto mais eles se aproximavam, mais a garota começava a pensar em como esse tipo de relação, essas em que você fica em dúvida se a pessoa gosta de você, quando na verdade os dois se gostam e tem esse frio na barriga se a outra pessoa gosta de você também ou não, em como esse tipo de relação é lindo. Em como uma relação que começam como amizade e vai se tornando cada vez mais platônica, mas sem que a química deixe de existir, é uma relação que há muito tempo a garota não vivia.

O livro segue, página por página, e a garota sorria cada vez mais, seu coração se aquecendo com esse tipo de história, com a relação que ela vê nas páginas e que há muito tempo atrás ela viveu uma parecida: e como é incrível esse tipo de relação.

Ela começa a pensar que quer algo assim de novo, que as relação amorosas que ela tem vivido são baseadas no imediatismo, na adrenalina de ficar com alguém desconhecido e nos amassos físicos que você dá com alguém. Era relações divertidas, relações que ela de fato precisava, mas que não são como ela gostaria que fossem.

Essas são as relações normais, que sempre encontramos. É como ler um livro e gostar dos personagens, viajar para um novo mundo, mas aquilo não te marcar, não te fazer sentir como se o mundo fosse um lugar melhor, sentir que não quer desgrudar daquela história. Esse tipo de livro (e de relação) é raro e talvez por isso seja tão estimado.

E, por coincidência (ou não) o próprio livro que a fez lembrar de tudo isso, desse tipo de relação que ela há temos não vivia, é o tipo que você não consegue desgrudar. E, quando o final do livro chegou, com um final impactante, ela teve que comprar o volume 2 da história.

E, no segundo volume, ela teve novos pensamentos, teve novas experiências e viajou para o passado de novo: mas dessa vez de uma nova forma.

Se o volume 1 a fez pensar em como ela quer viver de novo um tipo específico de relação, o volume 2 a fez lembrar da própria relação com ela mesma, quando ela estava se descobrindo bissexual. Ela se viu no personagem ali, se descobrindo bissexual, ficando confuso sobre o que ele sente, sobre quem é, ficando com medo de mostrar sua bissexualidade em público, com medo dos julgamentos alheios, com medo de sofrer algo ruim, mas também fazendo progresso a cada nova página.

No começo, também foi confuso, difícil e apavorante para a garota se descobrir bissexual. Ora essa, ela passou por grande parte desse período em negação, em que ela se viu apaixonada pela sua melhor amiga. Depois, ela começou a perceber as coisas que faziam sentido e, aos poucos, se assumiu para as pessoas em quem ela confiava. Mais tarde, bem mais tarde, ela começou a experimentar sua bissexualidade, explorar ela e de fato se relacionar com pessoas do mesmo gênero que o dela.

E a forma como a autora do livro retratou essa experiência, a forma como ela conseguiu trazer tanta sensibilidade, tanta verossimilhança para a trajetória do personagem, sem que ela parecesse falsa, forçada ou até estereotipada, fez a garota chorar. Ela literalmente chorou ao se ver em um personagem bissexual, ao se ver de uma forma tão sensível e realmente retratada. Isso também é raro: infelizmente é raro encontrar histórias que nos façam lembrar de nós mesmos, da nossa própria experiência LGBTQ+.

Esse é um tipo diferente de representatividade: não é uma representatividade do tipo “você não é o único a ser assim”. Não, esse é um tipo de representatividade que mais parece um espelho, que parece dizer: “olha só, você já viveu algo assim, lembra? Você já sentiu todas essas coisas, já viveu algo parecido com isso. Consegue se lembrar de como era? Era parecido com isso, não era?”

É um nível novo de representatividade, de acolhimento que uma história e seus personagens podem trazer para uma pessoa. É um tipo de representatividade que a garota nem mesmo sabia que existia.

Ainda faltam dois volumes da série para ela ler e ela está animada para mergulhar em duas novas experiências que ela ainda nem sabe como serão, mas ela imagina que serão tão ricas quanto as dos dois primeiros volumes!

 

Esse é um registro de Autoexpressão que eu fiz para mim mesma, mas quis compartilhar ele aqui por alguns motivos:


1º você pode se inspirar no meu registro de Autoexpressão para escrever o seu próprio, contando suas frustrações e problemas atuais.


2º talvez você esteja precisando ouvir o que eu disse para mim mesma: então espero que você encontre conforto nesse registro que eu escrevi para mim e que, por eu estar compartilhando ela, eu escrevi ela para você também <3

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