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Uma história sobre autosabotagem







A garota lia na rede seu livro sobre autocompaixão, até que ela viu um exercício que lhe chamou atenção.

“Exercício do eu critico, eu criticado e do eu observador compassivo” era o nome do exercício e a garota imediatamente quis fazer aquele exercício.

Depois de ler as instruções, a garota se levantou, pegou três cadeiras e as arrumou em um círculo, todas apontando para o centro.

“Pense em um problema” era a segunda instrução do exercício. “Pense em um problema ou algo que esteja te deixando mal ultimamente”.

E a garota na hora se lembrou do problema que a assombrava no momento: a escrita do seu livro. Ou começar a escrita dele, na verdade.

Então, se sentando na cadeira do eu crítico (já que cada cadeira era para um dos eus), a garota olhou para a cadeira do eu criticado e se imaginou ali, e assumiu a voz do seu crítico interno ao falar com o seu imaginário a sua frente.

“Você não pode começar a escrever esse livro, você não sabe o suficiente sobre o mundo em que ele se passa, nem mesmo sabe direito como vai desenvolver a história.” disse a garota para si mesma, na voz do eu crítico. “Você acha que conhece totalmente o seu mundo, mas você sabe dos detalhes dele? Olha que se você não souber bem dele, não vai conseguir desenvolver a história. E os personagens? Você conhece o passado deles? Conhece seus desejos, suas vontades, conhece seus medos? E o que você quer com essa história? Você ainda nem sabe direito disso e já quer começar a escrever.”

Então a garota para e se levanta, indo se sentar na cadeira do eu criticado e, olhando para a cadeira do eu crítico e imaginando a si mesma ali também, a garota começa a falar, na voz do eu criticado:



“Mas nós já sabemos demais do mundo. A gente já até pensou na roupa de cada cultura do mundo, já pensamos com detalhes nas religiões de cada cultura, em como as pessoas ali moram, vivem, em como elas se relacionam, como veem o amor, a morte e tudo mais. Isso já não basta?”

Mas a garota não havia acabado e, ainda olhando para a cadeira do eu crítico, a garota continuou, continuando a assumir a voz do eu criticado:

“A gente fez fichas e mais fichas para entender nossos personagens. A gente nunca vai entender totalmente eles e, além do mais, muito do que a gente conhece deles, a gente vai conhecer através da escrita, vendo como os pequenos detalhes deles se manifestam no decorrer das cenas. Quanto ao enredo da história, você sabe que eu não sou muito boa nisso, mas eu só vou melhorar se eu começar a escrever. E já faz anos que estamos nessa, planejando, planejando e planejando. Tá na hora de colocar tudo em prática, mas porque você fica me criticando, porque fica vendo sempre os meus defeitos? Por que não pode confiar em mim?” pergunta a garota, para o seu próprio eu crítico.

Então, se levantando uma última vez, a garota se senta na cadeira de maior sabedoria e bondade: na cadeira do eu observador compassivo, na cadeira que a garota precisa fingir que é alguém observando tudo de longe, sem se envolver emocionalmente, analisando tudo de forma imparcial (ou o mais imparcial que conseguir) e dizer com bondade e compaixão para os dois outros eus.

Então, logo quando a garota senta na cadeira, ela espera, observando as outras duas. Ela reflete silenciosamente e, depois de um pouco de reflexão, ela começa a dizer, olhando para o eu criticado.

“Você tem razão, nós estamos mais do que preparadas para escrever esse livro. Mas talvez o que você não perceba é que todas essas críticas, todo esse “apontar de defeitos” do eu critico é apenas uma forma de te proteger, de te ajudar. Ele não sabe muito bem como te proteger, então ele te sabota. Mas ele faz isso na melhor das intenções. Ele faz isso porque tem medo, tem medo de que, caso você escreva esse livro, você acabe não gostando do resultado ou ache que é uma escritora ruim. Ele quer te proteger disso, te proteger dessa possibilidade e, para fazer isso, ele te sabota, te impede de escrever seu livro.”

Então, o eu observador compassivo olha para o eu crítico e fala com ele, ainda com a voz bondosa e compassiva de antes:

“Mas ela precisa passar por isso, eu critico. Ela precisa escrever esse livro e se de fato ela fracassar, se de fato ela não for tão boa quanto espera ser, então ela precisa aprender a passar por isso, precisa aprender a lidar com esse sentimento, com essa possibilidade, caso ela venha acontecer. Ela precisa se machucar, precisa cometer erros para aprender a lidar com eles, assim como precisa passar pela dor para aprender a lidar com ela. A dor e os erros não vão sumir da vida dela, por mais que você tente protege-la. Mas se você deixa ela passar por isso, aprender com isso, quando os erros e a dor vierem, vai ser mais simples para ela, ela já vai saber um pouco como lidar com isso. Deixe ela escrever esse livro, deixe ela se machucar, cometer erros. Ela sabe se virar, ela sabe se levantar quando caí. Você não precisa proteger ela o tempo todo.”

E então, agora sabendo das coisas que a grande sabedoria do eu observador compassivo disse a garota, ela se levanta e vai escrever seu livro.

 

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