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Foto do escritorRaquel Oliveira

Uma história de luaus, beijos e nãos




Ontem eu fui em um luau. Um luau com o pessoal das artes cênicas, graças a disciplina de Improvisação que eu estou fazendo. E foi tão incrível: eu nunca tinha ido em um luau, mas o mar e as ondas, a pouca luz ali, as pessoas ao redor da fogueira, bebendo, conversando, se pegando. Foi incrível!


Mas aconteceu algo que me deixou meio chateada. Eu fui para o luau com o Miguel e o Arthur. Nós três moramos na Carvoeira, então fazia sentido dividirmos o uber para a Praia Mole (onde aconteceu o luau).


E estava tudo indo bem. Eu estava conversando com um monte de gente, várias pessoas, e teve uma menina que eu tive vontade de ficar. E eu consegui ficar com ela.


Dai depois disso, eu voltei para conversar com o Miguel e o Arthur. Um pouco antes disso, eu tinha tentado arrumar o Miguel para um menino que estava conversando, dizendo: "Miguel, eu te desafio a pegar o Tomé". Ele não quis, mas tudo bem. Dai, depois que eu fiquei com a menina e voltei para conversar com eles, e o Miguel disse: "Eu te desafio a ficar com o Arthur".


E eu poderia ter ficado com ele? Poderia. Eu sabia que eles tinha conversado de mim ou algo assim. Eu sabia que o Arthur queria ficar comigo. Mas na hora, eu não estava afim. O problema de pegar alguém que talvez queira ficar mais vezes com você ou que não vai saber diferenciar um beijo de role de um beijo apaixonado ou coisa do tipo, é que isso gera consequências. Eu mesma já tive essas consequências.


Então eu disse: "hoje eu to afim de pegar só menina mesmo". E de fato eu estava. Não queria pegar homem ontem.


Mas eu percebi que Arthur ficou bravo. Que ele não gostou. Eu percebi que ele ficou meio distante durante a festa, mal falava, ficou meio emburrado. Só porque eu não quis ficar com ele.


E eu fiquei pensando em como muitos homens heteros são com relação a nós, mulheres. Eles agem como se não devemos dizer não, agem como se a gente só pudesse ser alguém para eles pegarem, nunca veem a gente como apenas uma amiga genuína ou coisa assim. Eu sei que eu tenho amigos homens que (até onde se sabe) são heteros e que não me tratam assim ou não me veem assim. Mas sei lá, é um saco isso.


É por isso que cada vez mais eu fico mais feliz e me sinto mais confortável ao lado de homens lgbtq+. Poxa, o Miguel é bi e eu super me senti confortável com ele, sempre quando ele me abraçava, dançava comigo, e ontem foi a primeira vez que eu sai com ele ou falei mais com ele. E eu já me senti confortável e segura com ele de uma forma que eu raramente me sinto com os meus amigos heteros que eu conheço a mais de 7 anos.


O Miguel poderia querer me pegar? Poderia. O problema não é esse. O problema não é querer me pegar. O problema é só se aproximar de mim para isso. O problema é passar a me ver apenas como alguém para pegar e não como uma amiga. O problema é quando o meu "não" vem seguido de uma cara feia ou de um maior distanciamento. Ou de uma insistência.


Poxa, quando eu voltei para casa no uber com apenas o Arthur (o Miguel ficou no luau) eu morri de medo dele tentar algo comigo. Do jeito que ele estava bravo ou sei lá, fiquei com medo de fazer algo. Por isso eu fiquei conversando com o motorista de uber a viagem toda.


Sei lá, é um saco isso e me sinto melhor desabafando, mas ainda assim, isso não impede que outras situações assim aconteçam. Terça eu tenho aula e vou ver ele de novo e espero que, até lá, ele esteja melhor. E que não esteja distante ou bravo mais.

 

*Os nomes foram alterados para preservar a privacidade das pessoas na história.


Esse é um registro de Autoexpressão que eu fiz para mim mesma, mas quis compartilhar ele aqui por alguns motivos:


1º você pode se inspirar no meu registro de Autoexpressão para escrever o seu próprio, contando suas frustrações e problemas atuais.


2º talvez você esteja precisando ouvir o que eu disse para mim mesma: então espero que você encontre conforto nesse registro que eu escrevi para mim e que, por eu estar compartilhando ela, eu escrevi ela para você também <3

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