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Foto do escritorRaquel Oliveira

O que a Devi de “Eu Nunca” pode nos ensinar sobre amor próprio?




A série “Eu Nunca”, da Netflix, é uma série que conta a história da Devi, em sua jornada no ensino médio. Além de ter muita representatividade (tanto racial quanto LGBTQ+), a série também consegue trazer temas profundos de forma implícita. E é justamente sobre um desses temas que eu quero discutir nesse texto!

A protagonista da série (a Devi) é uma garota que está o tempo todo tentando provar que é o bastante, que é suficiente. É interessante que a série consegue trazer isso sob várias perspectivas, consegue explorar esse tema invisível com bastante autoridade e é sobre essas diferentes perspectivas que esse tema é abordado, que eu quero explorar nesse texto.

Esse texto tem spoiler das três primeiras temporadas.

As relações Paxton e Devi VS Des e Devi


A Devi, desde a primeira temporada, quer ficar com o Paxton. Ela luta constantemente para conseguir ficar com ele e, mesmo com tudo o que aconteceu entre eles, na terceira temporada ela finalmente é oficialmente a namorado de Paxton Hall-Yoshida! E ela estava tão feliz com isso. Até que…

Quando ela ouve algumas meninas da escola falando sobre o namoro dela com o Paxton, a Devi fica muito estressada e magoada. Aquilo que as meninas dizem, que ela não deve ser suficiente pro Paxton, mexe tanto com ela. E é aí que a série começa a nos mostrar que a Devi não se sente suficiente ou o bastante.

Ela quer ser bonita o bastante, inteligente o bastante, popular o bastante. E, quando alguém diz que ela não é nada disso, que ela de fato não é o bastante, aquilo toca ela, provando que isso é algo que ela mesma já acredita.

Depois disso, ela começa a ter várias e várias inseguranças com relação ao Paxton: começa a ficar com ciúmes da nova amiga dele, que a própria Devi ajudou os dois a fazerem as pazes, ela começa a sentir insegurança por ser a namorada do Paxton, como se não fosse suficiente para ele.

E é muito interessante comparar a relação da Devi e do Paxton com a relação dela com o Des. Ele é um personagem que não é da escola da Devi e ele é tão bonito quanto o Paxton.

Mas, com o Des, a Devi não se sente insegura: ela sente que é o bastante para ele, de alguma forma. Ela mesma diz para ele que ele não conhece ela totalmente, que não conhece a versão “fracassada invisível” dela e por isso ela se sente mais autoconfiante com relação a ele. Mas, é claro, o sentimento de que não é o bastante volta para a Devi: ela sente como se estivesse escondendo uma parte sua para o Des, a parte que, na mente dela, ela não é o bastante.

De acordo com o livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, da Brené Brown, nós associamos o nosso valor com o fato de “sermos o bastante”. Na nossa mente, nós só vamos de fato sentir que temos valor quando sentirmos que somos suficientes, que somos o bastante. E isso de fato é uma crença: mesmo que nós já sejamos suficientes, ainda assim, se não acreditarmos que somos o bastante, nós jamais iremos sentir que temos valor.

E é exatamente isso o que acontece com a Devi: ela não acredita que é o bastante, tanto com o Paxton quanto com o Des (mesmo que, de início, ela acabe escondendo essa parte sua com ele), e por isso, ela não sente que tem valor.


A relação entre o valor e o amor próprio


Todos nós podemos concordar que a Devi não se ama. Isso é evidente em todas as inseguranças que ela tem, não só com os meninos, mas também com a Aneesa, por exemplo. Ela está com dor, está com luto (luto pelo seu pai) e ela possui uma crítica interna muito grande e forte, que é um dos sintomas de falta de amor próprio também. Ela se cobra o tempo todo, quer ser perfeita o tempo todo, ser suficiente, ser a aluna mais popular, mais bonita e a mais inteligente.

E ela quer tudo isso, justamente porque ela quer se sentir amada.

Brené Brown diz, em seu livro, que a nossa tentativa constante de ter valor é também uma tentativa de se sentir amado, pois nós só nos sentimos dignos e merecedores de amor quando sentimos que temos valor (que é o mesmo que sentir que você é o bastante e suficiente).

Por isso que a Devi não se ama: ela não sente que tem valor, já que ela nunca se sente suficiente ou bastante.

É justamente por esse motivo que a cena em que a mãe da Devi diz que ela é suficiente emociona tanto: é isso que a Devi mais quer ouvir, é isso que todos nós queremos ouvir.

Nós somos como a Devi: estamos tentando a todo custo ser o bastante, ser suficiente, pois queremos ser amados, queremos ser dignos de amor.

Mas como podemos mudar isso? Como podemos de fato sentir que somos suficientes e que temos valor e, assim, nos sentirmos dignos de amor? A resposta é: não podemos. Irei explicar melhor sobre isso no próximo tópico.


A psicóloga da Devi e a Vulnerabilidade


Uma personagem que eu acredito ser essencial para a série é a psicóloga da Devi. Desde a primeira temporada, ela dá conselhos valiosos para a Devi: expresse suas emoções, lide com a sua raiva, encontre um momento de calma, pare de tentar ser diferente de quem você é. É claro que ela não dá os conselhos dessa forma: eles são desenvolvidos e aprofundados em todas as cenas que ela aparece, mas é interessante ver o ponto em comum entre todos esses conselhos: a vulnerabilidade.

A psicóloga diz que a Devi deve encarar a sua dor, deve encarar a sua raiva, os seus sentimentos e de fato parar de ficar constantemente fugindo deles. E a Devi escuta a doutora em alguns momentos, mas em outros não. E por que será que a Devi não segue alguns dos conselhos da doutora?

Porque ela não quer encarar os seus aspectos negativos, pois eles mostrarão que ela não tem valor.

Para sentirmos que temos valor, precisamos sentir que somos suficientes, certo? E, para sentirmos que somos suficientes, não podemos ter defeitos, falhas, cometer erros, ter dores ou sentimentos negativos, pois isso vai mostrar que não somos suficientes.

É por isso que a Devi está fugindo dessas partes negativas suas: pois isso vai mostrar para ela que ela não é suficiente e que não tem valor. Pelo menos, é esse o raciocínio que acontece na mente dela e na nossa.

Mas eu disse que não tem como sentirmos que somos suficientes, que temos valor, e, assim, que somos dignos de amor. E a verdade é que nunca iremos de fato sentir isso, por mais que nós nos esforçamos ao máximo para provar tudo isso. Nós somos seres feitos de coisas negativas também, de sombras e não podemos mudar isso, excluir o nosso lado mais vulnerável e negativo, porque isso faz parte de nós.

É como tentar ter luz sem sombras: isso jamais ocorrerá.

Então, como podemos sentir que somos dignos de amor? A melhor forma de fazermos isso é com a vulnerabilidade. É se dar amor já, sem que você sinta que mereça esse amor.

Quando nós somos vulneráveis, quando entramos em contato com o nosso lado negativo, nós paramos de criar uma luta constante com nós mesmos e nossas inseguranças e aprendemos a lidar com isso, ao invés de ficar o tempo todo fugindo.

É através da vulnerabilidade e também da autocompaixão (que é você se dar amor, se tratar com carinho e observar seus pensamentos, sentimentos e sua dor como algo natural e humano) que nós vamos, aos poucos, aprendendo a se amar e a lidar melhor com nós mesmos.

E se você quiser aprender sobre amor próprio, sobre como praticar tudo isso e como de fato se sentir amado sem precisar ficar fugindo das suas sombras, eu te recomendo fazer o meu curso Paz com Amor Próprio, onde você vai aprender tudo isso e muito mais sobre amor próprio e como fazer as pazes com si mesmo!

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