Nós estamos no mês do orgulho LGBTQ+ e eu queria fazer um conteúdo que tivesse a ver com esse tema, mas também queria te ajudar de alguma forma, por isso eu quis fazer um texto para ajudar as pessoas que estão questionando as suas sexualidades ou que estão se descobrindo.
Eu sou uma mulher bissexual e eu vou te contar um pouco da minha história de autodescobrimento, para que você entenda algumas coisas importantes na hora de entender a sua sexualidade.
Mas vamos começar pelo começo: eu acredito que tenham três fatores que podem fazer a gente questionar a nossa sexualidade. São eles: se apaixonar por alguém do mesmo sexo, beijar alguém do mesmo sexo e transar com alguém do mesmo sexo. Os dois primeiros são mais frequentes, mas em geral a gente costuma passar por ao menos dois desses fatos quando estamos nos questionando.
Vamos começar então falando sobre o primeiro fator: se apaixonar por alguém do mesmo sexo.
Se apaixonar por alguém do mesmo sexo
Esse foi o fator que me fez questionar a minha própria sexualidade. Eu lembro que eu estava no ensino médio e eu comecei a gostar de uma amiga minha.
No início, eu neguei: eu fiquei pensando “não, eu não posso estar começando a gostar dela. Ou posso?”. Eu tinha muito preconceito (preconceitos mais sutis do que aqueles mais violentos e descarados), mas eu percebo que eu entrei em pânico quando percebi que estava gostando de uma menina.
Depois de muita negação, eu comecei a aceitar: sim, eu estava gostando de uma menina. E, depois da aceitação, sempre vêm a confusão e as dúvidas.
Comecei a me perguntar se aquilo dizia algo sobre mim, se aquilo era algo pontual e momentâneo ou algo que eu estava desenterrando dentro de mim.
Eu não me lembro como eu percebi que, sim, eu era bissexual e aquilo não era momentâneo, mas lembro que eu fiquei vasculhando e refletindo sobre a minha própria vida e sobre as minhas experiências com garotas. Comecei a reparar que, sim, eu sentia atração por elas, mesmo que antes eu não percebesse com tanta clareza.
E aqui, eu queria te contar a primeira dica para você conseguir se entender: perceba os sentimentos mascarados.
A gente tem esse costume de mascarar nossos sentimentos, de mascarar coisas sobre nós (por medo, por preconceito, por falta de oportunidades de explorar tudo isso) mas eu lembro que eu comecei a, de fato, olhar para outras meninas me perguntando “eu sinto atração por ela?”.
No início, eu percebi que eu não prestava tanta atenção nas meninas e talvez nunca tivesse percebido que, sim, eu sentia atração por elas. Mas daí eu comecei a me observar: observar que eu sempre prestava muita atenção quando as garotas mexiam nos próprios cabelos, de forma hipnotizante, que eu sempre demorava mais o meu olhar nas pernas e cinturas das meninas.
São coisas sutis e que, aos poucos, você começa a tirar as máscaras de si mesmo: começa a perceber coisas que já estavam ali, mas você nunca tinha prestado atenção.
Então, se você se apaixonou por alguém do mesmo sexo, faça esse exercício: observe pessoas do mesmo sexo que você e se pergunte: tem algo nela que me atrai?
E é importante entender que “atração” é diferente de achar “bonito”. Se fosse assim, a gente só iria se sentir atraído por pessoas bonitas, não é? Atração é muito mais quando você fica com vontade de tocar a pessoa, de beijar ela, de se aproximar dela. Tem algo que te faz morder os lábios quando observa alguém? Ou tem algo que faz suas partes baixas ficarem, digamos, mais ligadas?
Tudo isso está relacionado a atração e se você perceber que, sim, mais de uma pessoa do mesmo sexo te faz sentir tudo isso, talvez você de fato faça parte da comunidade LGBTQ+
Beijar alguém do mesmo sexo
Como eu disse antes, a minha forma de perceber que eu gostava de meninas também foi quando eu me apaixonei por uma, mas tem muitas pessoas que beijam alguém do mesmo sexo e, só depois disso, começam a se questionar.
Se você é uma dessas pessoas, eu tenho algumas dicas para você.
Além de seguir a dica anterior, acho que é importante entender duas coisas para conseguir entender melhor a sua sexualidade. E a primeira coisa é entender que a sexualidade é algo fluído.
Não sei se você já ouviu falar desse termo ou se já ouviu a frase “a sexualidade é algo fluído”, mas eu vou te explicar o que isso significa agora. Imagine uma pintura, uma imagem. A maioria das pessoas acha que a sexualidade é como uma tatuagem: algo que está marcado em você e que você não pode mudar, que vai ser sempre aquela imagem.
Mas na verdade ela não é assim. A sexualidade é mais como uma pintura de aquarela que temos dentro de nós: você consegue jogar um pouco de água ali e mudar a pintura, você consegue colocar novas tintas ali, consegue misturar as imagens ali na pintura.
A sua sexualidade está ali (ela é a pintura que vai sempre estar dentro de você, a pintura que você nasceu com ela), mas ela não é como uma tatuagem, que é fixa: ela é fluida como uma pintura de aquarela, entende?
Então por ser que você goste de meninos hoje, mas amanhã gosta de meninas. Pode ser que você goste de beijar caras, mas só se apaixona por minas. Pode ser que você só goste de caras, ou pode ser que você só se apaixone por mulheres, mas não sinta vontade de transar com elas. Há muitas possibilidades e dentro de cada sexualidade, há outras mil possibilidades de como ela pode se comportar.
E isso acontece porque a sexualidade é formada por dois tipos de atração: a sexual e a romântica. A atração sexual está ligada ao físico: beijar e transar com alguém, basicamente. Já a atração romântica está ligada a se apaixonar por alguém.
Então, como funcionam a sua atração sexual? E a sua atração romântica? Nem sempre elas funcionam da mesma forma.
Por exemplo: eu tenho um amigo que se apaixona por homens, beija e transa com eles, mas ele só consegue beijar mulheres. Já conheci uma menina que se apaixonava por mulheres e queria beijar e transar com elas, mas só beijava homens. Comigo, eu poderia facilmente beijar, transar ou me apaixonar por qualquer pessoa.
Percebe como isso é fluído? Como isso não é fixo?
E a segunda coisa que você precisa entender para se autodescobrir é entender sobre a heterossexualidade compulsória. Esse é um termo que descreve quando nós temos comportamentos hetero normativos apenas porque é o convencional e não porque queremos de fato tê-los.
É quando uma menina lésbica beija um menino apenas porque todas as amigas tem namorado, menos ela. É quando um cara bi diz para os amigos que está gostando de uma amiga apenas para não ser o único ali que gosta de homens também. Tem muitas situações em que a heterossexualidade compulsória acontece e ela costuma vir de uma forma bem sutil: você não percebe com tanta clareza que está agindo de forma hetero apenas porque se convencionou a isso.
Então, preste atenção nos seus comportamentos diante do sexo oposto: você gosta realmente de beijar pessoas do sexo oposto ou só faz isso porque nunca experimentou outra alternativa? Você se apaixona mesmo por pessoa do sexo oposto ou só fez isso porque todos os seus amigos estavam sempre falando sobre alguém? Você gosta mesmo de transar com pessoa oposto ou só aceitou que nunca vai ter faíscas e intensidade na hora do sexo?
Eu acredito que para pessoas que realmente só gostem de pessoas do mesmo sexo seja um pouco mais fácil de perceber quando está agindo de forma hetero compulsória, mas pessoas que gostam de pessoas (como eu, no caso), costuma ser difícil perceber se eu estou ficando com um cara porque eu realmente gosto dele ou apenas porque eu acho que deveria ficar com ele por convenção.
É uma coisa sutil e difícil de perceber, mas quanto mais você refletir sobre os seus comportamentos e se perguntar mais e mais sobre eles, mais fácil de identificar esses casos vai ficando.
Teve uma época, no TikTok, em que as pessoas estava lendo o Manifesto Lésbico, que explicava com muita clareza sobre a heterossexualidade compulsória e tinha vários e vários tópicos de situações em que você poderia estar passando por heterossexualidade compulsória. Eu lembro que eu li isso e muitas coisas fizeram sentido para mim (muitas delas que eu nunca tinha parado para reparar).
Eu não tenho acesso mais a esse manifesto (sempre procuro no google e no tiktok, mas nunca é aquele manifesto que fala da heterossexualidade compulsória), mas se você, que está me lendo, tem acesso a esse manifesto, peço que coloque o link dele nos comentários <3 iria ajudar demais todos nós fazendo isso!
Mas eu achei esse vídeo no tiktok que pode ser um início para você entender se você sofre com a heterossexualidade compulsória. E tem esse vídeo no tiktok que eu também achei legal de compartilhar.
Transar com alguém do mesmo sexo
Esse eu já acho um nível mais avançado: afinal, se você teve coragem para beijar e transar com alguém do mesmo sexo, muito provavelmente você tem, no mínimo, atração sexual por pessoas do mesmo sexo.
Se não tivesse, como iria conseguir transar, não é mesmo?
Agora é só entender: você sente atração romântica também? Ou só sexual?
Também é interessante seguir as dicas anteriores, tanto as que eu disse sobre se apaixonar por alguém do mesmo sexo quanto as de beijar alguém do mesmo sexo.
Mas, se você seguiu todas elas e ainda está confuso, então acho que a melhor opção é encontrar um nome: começa a pesquisa os nomes da comunidade LGBTQ+ e se perguntar: eu sou assim? Isso parece comigo?
Por exemplo: eu me identifico como bissexual, mas já tiveram épocas em que eu me identificava como heteroflex, outras como homoflex. Eu já me perguntei, durante uma época da minha vida, se eu era assexual (e se eu era parte de alguma sexualidade do espectro assexual).
Então o google vai ser o seu melhor amigo nesse momento: pesquisa por termos guarda-chuva dentro das sexualidade que você conhece (gays, lésbicas, bissexuais), pesquisa pelas sexualidades dentro do espectro assexual e do aromântico (que, como a maioria das pessoas pensa, não é algo restrito, algo que tem zero atração).
Quanto mais nomes você conhecer e mais deles pesquisar, talvez mais você consiga se entender e até definir uma palavra para chamar de sua <3
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