No texto anterior eu falei sobre os dois tipos de empatia e sobre como ter empatia emocional. Para ler o texto anterior, clique aqui.
Agora, nesse texto, vamos falar sobre empatia cognitiva.
O que é empatia cognitiva?
Empatia cognitiva é quando você entende a necessidade não atendida de uma pessoa por trás de um comportamento dela, normalmente um comportamento agressivo.
Para a gente entender mais sobre essa palavra “necessidade” a gente precisa entender em que contexto ela está inserida. Necessidade, quando se trata de empatia cognitiva, é a necessidade que se fala na Comunicação Não-Violenta (ou CNV).
A Comunicação Não-Violenta tem quatro passos: ver a situação que está acontecendo sem julgamentos, ver ela como ela realmente é (exemplo: alguém furar a fila em que você está). Depois, você precisa identificar os seus sentimentos diante daquela situação (exemplo: você pode se sentir com raiva na situação de alguém furar a fila ou se sentir frustrado com isso).
Em seguida, vem a necessidade, que é você identificar que necessidade sua precisa ser atendida e que, infelizmente, não está sendo atendida. No exemplo de furar a fila, a necessidade é, obviamente, de ser atendido na fila. Mas, dentro dessa necessidade, pode haver outras necessidades: de ter o seu problema resolvido, de se sentir respeitado e por ai vai.
Dentro de uma situação, pode haver muito mais do que uma necessidade, muitas vezes algumas necessidades que estão mais profundamente dentro da gente e que a gente precisa parar um pouco para de fato entender e ver que essas necessidades estão ali.
O quarto passo da CNV é você comunicar os seus sentimentos e as suas necessidades diante dessa situação (exemplo: “quando você furou a fila, eu me senti com raiva e frustrado e a minha necessidade de ser atendido não aconteceu, por conta de você ter furado a fila”).
Em uma situação normal e rotineira, você provavelmente iria gritar com a pessoa que furou a fila ou xingar ela baixinho na sua mente. Mas imagine se a outra pessoa entendesse a sua necessidade e os seus sentimentos diante do ato dela de furar a fila? Tudo iria ser resolvido muito mais facilmente.
Se a pessoa entender e compreender a sua necessidade de ser atendido, ela iria estar praticando a empatia cognitiva. Só que, nem sempre as pessoas vão falar conosco com uma comunicação não-violenta, seguindo todos esses quatro passos.
E é por isso que é importante a gente ter e praticar a empatia cognitiva.
A empatia cognitiva exige esforço
A empatia cognitiva, ao contrário da empatia emocional, não é natural para nós. Ela exige que você pare o que esteja fazendo e reflita. Ela exige uma reflexão, um raciocínio por trás.
E esse raciocínio e reflexão que essa empatia exige é o de entender a necessidade do outro, os sentimentos do outro, os medos, as inseguranças do outro e entender os motivos mais internos e profundos do outro estar agindo como está agindo.
Na maioria das vezes, a gente vai precisar da empatia cognitiva diante de uma situação de agressividade e violência. Diante de uma situação de preconceito, de “maldade” e de algo que nós julgamos muito abominável e ruim.
E, quando estamos diante dessas situações, é difícil não ser contagiado pela agressividade, pela violência e agir dessa forma também. Por isso que é importante parar o que está fazendo e refletir, pensar racionalmente sobre aquilo e aquela situação.
Como desenvolver empatia cognitiva
Acho que antes mesmo da gente desenvolver o hábito de praticar a empatia cognitiva, a gente precisa entender que empatia cognitiva não é se colocar no lugar do outro. Empatia cognitiva não é você colocar quem você é, com as suas experiências, com os seus medos, com os problemas e inseguranças, no contexto do outro.
Empatia cognitiva é você entender os motivos do outro estar fazendo o que está fazendo, de você entender os medos e inseguranças do outro que os levaram a fazer o que está fazendo, entender as experiências e as características do outro que fizeram com que ele esteja fazendo o que está fazendo.
E aí, depois disso, entender a necessidade do outro que não está sendo atendida.
E pode parecer muito difícil entender tudo isso. Mas tem alguns exercícios que são interessantes de se fazer para que a gente consiga cada vez mais visualizar esses motivos, esses medos, essas inseguranças e experiências que o outro tem e viveu para estar fazendo o que está fazendo e agindo como está agindo.
O primeiro exercício é você ouvir e ver mais pessoas diferentes de você. Então, por exemplo, se você for um cara hétero e branco, porque não ouvir e conversar com mais pessoas negras? E com mais mulheres? E com mais homosexuais?
Conversar com essas pessoas e ver mais da realidade delas, do que elas sofrem, e coisas assim, vai te ajudar bastante a entender as necessidades dessas pessoas, os medos, as inseguranças delas e tudo mais.
E o mesmo vale para o outro lado da moeda. Então se você é uma mulher negra e lésbica, porque não conversar mais com héteros? Conversar mais com homens e com brancos? Isso vai te ajudar a entender a realidade deles e porque eles fazem as coisas que fazem.
Eu, por exemplo, só consegui escrever esse e os outros três textos em que eu falo sobre a cultura do estupro quando eu tentei me colocar no lugar dos estupradores e quando eu comecei a ver a pornografia, a ouvir hetéros e homens machistas.
E a internet está ai para te ajudar bastante com isso. A internet vai te permitir seguir e acompanhar pessoas que são diferentes de você e você entender e compreender a realidade delas.
Eu só passei a entender e compreender mais do feminismo negro e do porque de o feminismo negro lutar por coisas diferentes do feminismo branco, quando eu comecei a ver, na internet, feministas negras falando sobre isso. Quando eu passei a seguir mulheres negras e a acompanhar mulheres negras.
O segundo exercício é você de fato pensar sobre todas essas coisas. Um exercício muito legal para conseguir fixar bem essas coisas de outras realidades que você está vendo e conseguir fazer conexões entre elas, é você reunir informações, dados, argumentos racionais e emocionais para provar algo que você não acredita.
Então, por exemplo, se você é um hétero e acredita que a homossexualidade não é natural, você precisa reunir informações, dados e argumentos para escrever um texto provando que a homossexualidade é natural.
Então, procurar por animais que são homossexuais, ver homossexuais falando sobre como eles não conseguem resistir a atração pelo mesmo sexo, e até mesmo discutir o que é algo natural pode ser um exercício muito interessante para ter empatia cognitiva com os homossexuais.
Quanto mais você pratica a sua empatia, seja ela cognitiva ou emocional, mais empático você vai se tornar!
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