Esses dias eu estava assistindo toda a série de filmes da saga Divergente, e no segundo filme da série, me chamou atenção como ele tratou um tema sobre amor próprio: o fato de às vezes odiarmos a nós mesmos.
Em Insurgente, nós acompanhamos a jornada da Tris e os demais amigos fugindo da Janine, a vilã do primeiro e do segundo filme. Mas enquanto em Divergente nós vemos uma evolução e progresso da Tris, aprendendo a assumir o seu maior potencial, em Insurgente, vemos ela lidar com a sua pior versão, com sua culpa, fardos e com toda a sua dor que ela assumiu no final do primeiro filme.
Analisando o filme enquanto eu assistia, eu notei que o tema “odiar a si mesmo” está girando ao redor da Tris e é sobre como o filme trata esse tema e como ele nos mostra uma solução de como sair dessa situação, que eu quero discutir com você nesse texto!
A Autocrítica da Tris
“Autocrítica” é o nome que a autora Kristin Neff (do livro “Autocompaixão”) usa para descrever aquela voz dentro de nós, que fica nos julgando, nos criticando, dizendo coisas maldosas e cruéis para nós mesmos.
Todos nós possuímos autocrítica, mas a diferença entre pessoas que se odeiam e as que aprendem a se amar é que as primeiras não sabemos responder a esses pensamentos, elas sentem como se a sua autocrítica fosse uma verdade absoluta, como se aqueles pensamentos estivesse retratando a verdade, quando na realidade eles estão nos mostrando apenas uma forma distorcida da realidade.
É claro que, no filme, nós não somos capazes de ouvir os pensamentos da Tris, mas a forma como o filme apresenta as dores, problemas e culpas que a Tris carrega é muito visível que ela possui uma autocrítica muito forte e que acredita de fato que ela seja real.
Isso já está presente no primeiro filme, quando a Tris sente culpa por ter escolhido a audácia, sentindo que é culpada por abandonar os pais ou pela má fama que a Erudição tenta vender sobre a Abnegação. Mas é no segundo filme que essa autocrítica se torna mais marcante e visível.
Além dos diversos pesadelos que a Tris possui, sobre a culpa que sente com relação a morte dos pais e, principalmente, do Will, um momento em que fica muito claro que 1) a Tris acredita na própria autocrítica; 2) ela não ama a si mesma, e 3) ela acredita não ser digna de amor, é durante o julgamento dela na Franqueza.
Essa cena em especial sempre me toca muito, pois eu mesma já tive uma autocrítica tão forte quanto a da Tris. Nessa cena, Tris e Quatro vão ser julgados usando o soro da verdade e, apesar de todos os protestos da Tris, ela aceita o julgamento.
A Tris luta contra o soro da verdade, luta para que a verdade obscura não venha à tona. E essa verdade obscura não é o fato dela ter matado um dos seus amigos, afinal, ela fez isso por legítima defesa, ela não tinha controle sobre o comportamento do amigo e, mesmo que, sim, ela tivesse cometido um erro, ainda assim, ela não merecia tornar esse fardo tão grande como o transformou.
Mas a verdade obscura que a sua mente a fez acreditar é que, por causa de todos esses erros, todas as dores que ela causou, não por vontade própria, mas justamente por não ter outra escolha, isso tudo é culpa dela e ela não merece amor por ser uma pessoa falha, por ser uma pessoa que, nas próprias palavras da Tris “todos que se aproximam dela ou morrem ou se machucam”.
Essa cena demonstra claramente como é a mente de uma pessoa que odeia a si mesma: ela não consegue ficar a sós com seus próprios pensamentos, ela acredita que não possui valor por ser uma pessoa falha, humana e que causou dor (algo que está fora do nosso controle, afinal, se pudéssemos controlar isso, garanto que ninguém iria escolher causar dor ao outro).
A Tris luta contra o soro da verdade, pois ela não quer externar esses seus pensamentos sombrios, que são originados pela sua autocrítica. Essa cena é de partir o coração, principalmente daqueles que se identificam ou já se identificaram com a Tris.
A eterna batalha entre luzes e sombras
No final do filme, nós entendemos aquela que eu acredito ser a maior lição desse filme: ele nos mostra como podemos lidar com a nossa autocrítica e, aos poucos, aprendermos a nos amar.
Depois de se entregar para a Erudição e fazer os testes de quatro facções em um único dia, o único que resta para Tris completar é o da Amizade. E é justamente nesse teste em que ela tem que encarar a si mesma.
É bastante marcante essa parte, porque a Janine fala para a Tris: “Você não vai ter que lutar contra mim, você vai ter que lutar contra aquela que você realmente odeia”.
Depois que a Janine diz essa frase, em seguida a Tris vê um espelho de si mesma. E, nessa cena, o filme consegue nos mostrar um outro aspecto sobre esse “odiar a si mesma”, porque a Tris que ela odeia está nas sombras, em um lugar mal iluminado, enquanto que a outra Tris está na luz, em um lugar muito bem iluminado.
De forma implícita, o filme nos mostra que a nossa relação com nós mesmos é sempre um jogo de luz e sombras: de qualidades e defeitos, de conquistas e fardos, de orgulho e culpa.
E uma das grande lição, neste momento, é que você precisa encarar as suas sombras, você precisa encarar aquelas coisas que a gente não gosta de deixar visível, que a gente não gosta de encarar de fato e que precisamos olhar e observar as nossas próprias sombras e aquilo que sentimos vergonha, culpa e ódio.
E nessa parte essas duas Tris ficam lutando entre si: então essa relação de não encarar as suas sombras e lidar justamente com elas é sempre uma luta, uma batalha interna dentro de nós.
E sempre que estamos odiando a nós mesmos é sempre uma luta constante, a gente está sempre lutando contra nós mesmos e contra essas nossas duas partes: as luzes e as sombras, impedindo que as sombras cheguem à "superfície" ou que sejam expostas, enquanto tentamos tornar as luzes a nossa totalidade: queremos ser feitos única e exclusivamente de luzes.
Mas é claro que não tem como existir luz sem as sombras, da mesma forma que não tem como existir qualidades sem defeitos, conquistas sem erros, orgulho sem culpa.
A questão, nessa cena, é que, para amarmos a nós mesmos, não devemos sustentar essa batalha interna, não devemos ficar tentando apagar as nossas sombras. Essa não é a maneira de amar a si mesmo.
E como podemos lidar melhor com nós mesmos?
No final, há a maior lição do filme todo, e que de fato nos ensina como lidarmos melhor com nós mesmos: com a nossa autocrítica, com essa batalha entre luzes e sombras.
No começo do filme, a Joana (a líder da Amizade) fala para a Tris: “Ser da Amizade é perdoar os outros, mas também perdoar a si mesma”. E ela fala sobre as feridas também, que muitas vezes a gente sente muita culpa e muita autocrítica e isso causa uma ferida em nós, faz com que os nossos machucados não consigam cicatriz.
E é justamente dessa forma que a Joana diz que define a Amizade, que a Tris passa no teste dessa facção: ela diz para a outra Tris (a Tris-sombras) que ela perdoa a si mesma.
E o primeiro passo para conseguirmos de fato ter amor próprio é você aprender a se perdoar: você entender que você não tem controle sobre tudo, que você não é perfeito, e você aprender a aceitar essas suas sombras.
Nós não podemos excluir as nossas sombras, então, ao invés de ficar lutando contra elas de forma eterna, a nossa melhor alternativa é fazer as pazes com a nossa pior versão, é entender que não temos controle sobre tudo, que nem sempre vamos ser capazes de impedir dores, erros, fracassos. E que está tudo bem: isso é normal, humano e natural, mas isso não faz com que você não mereça amor.
É justamente por ser uma pessoa falha, humana e imperfeita, que você merece amor: você está constantemente tentando lidar com essas suas sombras, você já é digno de amor e não precisa provar o seu valor (provar que é perfeito, que não comete erros ou causa dores) para de fato merecer o amor e ser digno dele.
E, claro, o segundo passo para ter amor próprio, é justamente você desenvolver uma outra caraterística poderosa da Amizade: a autobondade. As pessoas dessa fação são bondosas, carinhosas, acolhedoras, e não só com as pessoas ao seu redor, mas também com eles mesmos.
E é se perdoando que nós vamos conseguir ter mais autobondade: uma ajuda com a outra, da mesma que se perdoar é um ato de autobondade!
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